Muitas
vezes me pergunto sobre o que devo escrever e me perco em diversos temas que na
maioria das vezes não fazem parte de mim, não tem a capacidade de atingir meu
ser e tão pouco de refletir minhas angústias, que dia após dia, dilaceram meu
peito e de uma forma abrupta consomem parte de minha existência. Me perco em um
mundo onde constantemente tento me encontrar, mas é uma busca inútil, pois bem
sei agora, que aqui nesse ciclo urbano sou alheio de todas sua futilidades, mas
mesmo assim me perco nesse mundo onde tudo é consumo baldado, vivemos para
gastar vinténs e cada tostão gastado é uma forma de soberania restrita que
entorpece o ego e aniquila, em doses homeopáticas, tudo aquilo que achamos e
chamamos de vida. Cada dia perdido longe do que você é constituí em menos um
dia na sua vida, mas não nessa de mentira, onde tudo é consumível e
descartável, mas naquela onde você é o espelho da sua alma, o retrato do seu
tempo. Talvez seja daí que venha minha necessidade enlouquecida de viver a
verdadeira vida, também e pelo mesmo motivo, deixo de existir todos os dias em
que vivo essa cópia. Para viver nisso que a sociedade chama de vida, temos que
nos multiplicar em diversos de nós, onde cada um desses seus eu`s são formas
alternativas do seu ser, para que se possa “viver” de forma “plena” nessa
agremiação gananciosa de humanos, assim deixamos der ser o que somos, para
sermos um molde bem elaborado de comportamentos padrões, de mentalidade rasa e
estética aceitável, isso para sermos exatamente aquilo que não queremos ser.
Talvez
seja a exatidão dessa contradição entre o que é consumível e o que é vida
vivida, mas sem mentiras, a angústia que aflige toda minha existência. Não sei
viver uma vida consumível sem perder-me nos incontáveis labirintos de alienação
que construímos nessa sociedade de plástico, não sei ser pleno sabendo que tudo
que temos tem um preço monetário no mercado de farrapos, nem tão pouco me
adequo aos valores financeiros em que tudo que somos é uma quantia variável de
dinheiro. Faz-se necessário a libertação da consciência das coisas mundanas,
dos grilhões sintéticos que tanto aprisionam os seres em um mundo digitalizado,
peremptório é a nossa necessidade de liberdade, de alforria perante essa
sociedade que escraviza corpos e consciências em variedades de banalidades
esteticamente padronizadas, para que assim sejamos um mesmo modelo, um mesmo
padrão, um conjunto de vontades e desejos invariavelmente análogos,
configurados por um programador de sonhos comprados em uma prateleira de um mercado.
Mas a
liberdade não pode ser um processo harmônico, nem uma transição pacífica entre
a vida vivida e a vida consumida. Não existe conciliação entre dois modos de
vida tão antagônicos, a transformação é uma separação abrupta, é um libertar
cheio de consequências. A primeira delas, talvez seja a crescente incompreensão
das variedades de valores sem valor, a não aceitação de uma vida fútil, querer
uma vida que extrapole os limites de concreto e aço impostos em forma de
imposto. A ruptura será inevitável para todos quem enxergam para além de um horizonte
cinza, para todos que com humildade vislumbram uma realidade oposta, uma forma
natural de ser o que somos. Sendo assim não busco nada nessa vida consumida,
não quero mais suas mentiras vendidas em esquinas, não quero mais tragar seus
pecados e nem acumular cinzas de minha vida. Liberto-me de tudo que for padrão,
não quero patrão, quero apenas uma vida serena onde tudo seja verde, quero um
horizonte aberto para tudo que for sincero.
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