segunda-feira, 24 de março de 2014

Caminhando com o poeta

a Carlos Drummond de Andrade

Caminhava eu e o poeta
Pelas ruas da cidade,
Junto tentávamos medir
O tamanho da noite,
Queríamos descobrir
Quanto silencio cabe em suas horas.
O poeta caminhava comigo
Tínhamos como fardo
O sentimento do mundo,
Mas sabíamos bem
Que as dores do mundo,
Assim como suas alegrias,
Não caberiam em nossos corações,
Por isso caminhamos
E juntos gritamos
Todo esse sentimento
Que entope nossos peitos.
Eu e o poeta
Conversamos uma conversa muda
Onde nos entendíamos através do silêncio,
Até que paramos num banco
E ali sentamos,
Sentamos de costas ao mar
Interessava-nos somente o homem,
O bicho homem,
Assim ficamos sentados
Analisávamos a vida,
A vida dos homens,
A mesma que eu e o poeta vivemos.
Talvez fosse muito mundo,
Talvez fosse pouco ombro
Não seriamos capaz
E exatamente por isso,
Transformamos a vida em poesia,
Pois entala o que não cabe no peito.
Continuamos sentados
Mudo continuávamos,
Foi ai que entendi
Que não conversava o poeta,
Mas com sua estatua.
Sendo assim, poeta,
Deixo contigo
Em tua fria imagem
Minha muda mensagem,
Deixo em tuas mãos
O sentimento do mundo,
Pois este não cabe nas minhas.


 Eduardo Andrade

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