quarta-feira, 19 de março de 2014

Sobrenome ninguém

Ninguém é o seu sobrenome,
Anônimo o seu nome.
É aquele que passa e ninguém repara,
O mesmo que todo o dia trabalha
Sem comida em casa,
Desprovido de chão
Falta-lhe o pão,
Caminha pela terra
Sem marcas,
Sem pegadas
Sustenta o mundo nas costas
E continua anônimo
De voz muda
O mundo não escuta
Seus gritos e gemidos,
Pois sua dor é invisível
Nada é sinônimo,
Vazio é adjetivo
Que te faz ninguém.

Os donos de nada,
Os senhores de coisa alguma
Sangram a vida todos os dias,
Pois não cabe nela a humanidade
São apenas braços e pernas
Sem ideias ou ideologias.
Os anônimos
Apenas representam números
Numa folha de contracheque,
Numa estatística triste
Onde morrem
Sem nome e sem vida.
Os nadas
Povoam o mundo com seu vazio,
Mas alimentam o mesmo
Com suor e labuta,
Deles é que nasce tudo.
Talvez seja essa sua contradição
Não ser e fazer que seja
Tudo aquilo que não lhes pertencem.
Nada é teu
Nem o sonho,
Mas tudo é obrigação tua
Para que outros sonhem,
Não existe vida justa
Para quem é ninguém,
Para quem o anonimato
É nome e sobrenome.


Eduardo Andrade

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