Na mesma enseada
Enquanto nos perdemos
Numa vontade de prateleira,
Enquanto discutimos
Os valores dos ismos
Vejo a foto dum menino afogado
Vejo na mesma foto a humanidade Igualmente afogada.
Estamos presos num mundo mudo
Onde o gemido de dor
Não alcança os ouvidos
E num mundo em que somos mudos
Também somos cegos,
Pois não enxergamos
A criança afogada.
Naufraga a humanidade
Junto a foto ignorada
Perde-se o dom de doer
E já não temos no peito um coração
Apenas uma aflição
Saciada no crédito do cartão.
Naufraga o homem,
Naufraga a mulher
No mesmo mar
Em que morreu o menino
Da foto naufragada.
Esvai-se aos montes
Nossa humanidade
E junto ao pequeno infante
Todos nós nos afogamos
Na mesma enseada.
Eduardo Andrade

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