segunda-feira, 2 de julho de 2012

NÃO TE AMO POSTO QUE TE AMO



“Hoje acordei com olhos de pranto,
com um lamento em forma de canto.
hoje transformo lamentavelmente meu canto
em conto de tristeza e penar
de uma noite fria e sem vida,
de um amor pelo tempo esquecido
e adormecido no olhar de um perdido.”

Te amo como qualquer coisa infinita,
posto que nosso amor é morbidamente finito.
Amo sua cabeleira preta, sua doce boca,
seus lábios de pão e mel,
amo seu colo infinito,
sim amo seus fartos e diminutos seios,
pois simplesmente te amo,
sem pensar ou compreender.
Amo nossa cama minha dama,
adoro nosso lar que não existe,
venero nosso inexistente cão,
amo nossos imaginários filhos,
pois almejo um futuro ao lado teu.

Não, não te amo e assim é
por que te amo.
Te amo e não te amo,
assim como qualquer
coisa ambígua.
Te amo de forma controversa,
te quero toda descoberta
porque não te amo.
Amor, não te amo,
te amo mas somente em sonho.
Que triste desengano, que doce querer,
que saudades do seu gemer ao amanhecer,
que loucos eram seus gritos no escurinho
e ao entardecer o que dizer de nosso longo gozo?
Te amo porque és louca,
porque é dama e dona,
sim dona de minha cama,
mas nunca santa.
Não te vejo com uma
estatua vestida, sem vida,
sem desejo e perdida.
Vejo-te nua, loucamente nua!
vejo-te crua, cruelmente nua!

Então é isso, não te amo, pois de
tanto amar-te desamei-me
e justamente por isso te amo!
Ai ai que louco devaneio
de uma menta insana,
que dança, pois te ama
doce dona.
Venha dama, mas não venha.
Compreendes a antítese?
Entendes agora que porra
louca é o encontro
de dois ditosos amantes?
Agora eu compreendo
o desencontro que faz de
dois amentes, dois estranhos suspeitos
que falam pela boca coisa pouca, coisa boba,
mas que sentem no deitar e no pensar
uma paixão louca, um amor tristonho
de um remoto pretérito descomposto
nas confusões e de mentes insanas.

Sim, sim, sim minha lira é triste,
meus versos são sorumbáticos,
pois carrego no peito o estilhaço
de um passado, um espelho quebrado
que reflete somente pedaços.
Carrego comigo apenas fragmentos
de você loca dona, sim, não te levo inteira
em minha alameda. Mesmo assim te levo em partes
pois não saberia viver sem ter ao menos doces
e belos pedaços de ti minha dama.
Como quero não te amar,
mas continuo a amar-lhe.
te amo mesmo tentando não te amar
não te amo porque insistentemente te amo.

De tanto te amar e não amar
criei em meu ser um amor sem fim
construí um querer de ti que se fez
ao tentar esquecer-te.
Arranco-te de minha pele
para que possa dormir sem seu odor,
parto meu coração para que possa
subtrair em mim meu amor por ti.
E assim fiz em mim um amor sem fim,
fiz-me insano, fiz-me sozinho
para que assim possa sempre poder ouvir,
mesmo que de longe, seu doce canto.


Eduardo Andrade do Nascimento

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