sexta-feira, 24 de maio de 2013

Minha nunca pátria


Minha pátria
É um descampado
De pratos vazios,
De bocas famintas,
É um logradouro
Onde corre solto
O uivo dos lobos,
Todos engravatados
Diretamente de Brasília.
                               
Minha pátria
É um curral eleitoral
De ovelhas pastoreadas
Pela esfaimada matilha parlamentar,
É um recanto tão pouco soberano,
Um relento para quem não tem abrigo ao vento.

Talvez seja minha pátria
Uma grande nação sem noção,
Sem rumo e nem direção,
Um povo contido atrás de seus medos,
Acanhando por ignorar o seu passado,
Calado com socos, tapas e chutes,
Morto com tiro que atiram os lobos.

Essa é a minha pátria
Que tanto ignoro na minha ignorância,
Esse é meu imenso descampado
Que não é meu não é seu, não é nosso.
Sim, minha pátria é uma propriedade privada,
Um latifúndio onde não se enxerga o fundo,
Nada mais que uma campina vazia.

E nessa pátria
Que nunca foi pátria,
Que nunca foi casa para o seus,
Para seus filhos desfavorecidos,
Desprovidos de terra, comida e abrigo.
Somos todos sem terras
Somos todos sem teto
Assim somos todos
Nessa nossa nunca pátria.

Nessa pátria de donos
Colocaria a propriedade e os proprietários
Todos juntos na mesma privada
E daria uma boa descarga,
Talvez assim essa pátria
Pudesse ser muito mais que um descampado,
Talvez pudesse ser
Minha pátria
Sua pátria
Nossa pátria.

Eduardo Andrade

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