O que sou nesse mundo que insiste em não ser, é possível ser
nessa existência que distorce as formas da realidade, ou apenas, somos o que
podemos ser na incerteza do que do que não sabemos? Nessa realidade repleta de lados, onde a
mesma cor pode assumir novas formas, novas cores, deixando de ser o que era ou
deixando de ser o que nunca foi, procuro a minha faceta escondida entre os tons
de uma aquarela, busco na pluralidade um pouco de verdade, busco em todos os
lados minhas partes, para que assim, quem sabe, possa decodificar o que sou
nesse mundo que não é.
Uma vez diante dessas dúvidas que a vida faz, perguntou-me,
em voz de interrogatório, o que sou nessa vida disfarçada de esquina, o que sou
nesse mundo repleto de absurdos, de momentos nulos? Essa foi à pergunta que
minha consciência fez e insistentemente faz depois de acordar e antes de dormir,
mas é uma pergunta que respondo mudo, é uma pergunta que me tira a voz, que me
deixa mudo diante o mundo, que faz silêncio no momento em que desejo saber o
que me faz e desfaz. Sem saber ao certo, sei bem o que sou mesmo não estado
correto.
Nessa história onde me descubro procurando o que não sou,
aprendi a ser somente o que preciso, não vou ser sem necessidade, pois somos
aquilo que precisamos ser assim descobri que nada disso que sou é tudo aquilo
que poderia ser. Em suma, pela parte que me cabe, sou avantajado de orelhas,
normal de nariz, rico em cabelos, magro de corpo, pequeno de pé, amante das
mulheres, humilde de coração, homem de bem, verde de espirito, chato de cabeça,
livre nas ideias, moreno de pele, complicado com as palavras, incapaz para os
cálculos, conhecedor da história humana, de passos rápidos, apaixonado por
mares, estrelas e cachoeiras, caminhante de trilha e areias, vagaroso para as
resposta, sou morador do mundo imaginário, vivente noturno, de apetite
insuportável e inabalável, incansável desordeiro, apaixonado pela gastronomia,
muitas vezes inimigo da rima, forte quando preciso sensível se necessário,
maconheiro e bebedor de esquina, esquerdista e poeta por infortúnio da vida.
Talvez seja essa a definição do que eu ache que seja essa
personalidade minha tão impermeada pelas as coisas da vida, tão saturada de
coisas de esquina, cheia da poesia que escrevo todos os dias nas páginas já tão
amareladas dessa vida que não é só minha vida que é de todos que caminham
comigo por essa alameda de cores infinitas, de poesias ainda não escritas, de
amores vividos, de prantos nunca esquecidos. Assim sou eu para mim, mas não
para você, sou o que sei ser sem nem mesmo entender se é isso mesmo ou se é
aquilo. De certo sou qualquer coisa entre isso e aquilo, sou múltiplo e único,
sou um sonho absurdo.
Eduardo Andrade
Nenhum comentário:
Postar um comentário