Existe um mar de brumas que se estende diante meus olhos,
onde dentre neblinas vejo imagens desbotadas de um pretérito que como grilhões
me prendem a brumas que rodeiam. Diante o nevoeiro mantive-me estático, o medo
paralisou-me ante a possibilidade de mais um tombo, a probabilidade de mais uma
queda onde novamente partisse-a o que pouco sobrou dessa alma partida fez-me atônito
fronte uma conjuntura em que tudo é nulo e fútil. Desculpem minha necessidade
de estar longe, mas não sou desse mundo onde tudo é tão pouco, onde a
simplicidade vive escondida e reprimida em nossos guetos, estamos acuados
dentre de nós mesmos, que loucura é viver escondido longe das estrelas que somos
que pouco é ser mercadoria que depois de usada perde a utilidade. Talvez a vida
seja mais que uma prateleira de mercado onde nos colocamos todos os dias. Consumimos
e somos consumidos, do nascer ao raiar do dia, e a noite, choramos a insanidade
dessa sociedade atormentada. Tantos são os sonhos afogados nas brumas, tanta é
a vida deixada junto ao lixo jogado ao asfalto que não consigo mais enxergar o
sentido de viver numa sociedade louca onde sou apenas um número sem valor no
mercado, uma mercadoria vendida ao preço da carne, exposta com suas dores
maquiadas de felicidade. Tão artificiais são as cores do concreto e seus sonhos
rasos, seus amores amarrados em cordas de aço não passam do retrato dessa vida
cheia de pequenos pecados, repleta de vontades esquecidas e reprimidas nessa
cortina que se estende entre nós e a vida. Antes que eu mude e me torne tão
frio quanto o inverno que perdura todos os dias vou-me embora em busca de algo
que nem sei ao certo o que é, vou à busca de mim mesmo, vou abrir as portas da
vida e quem sabe, caminhando, descubra o que se vê além dos olhos. Quero
descobrir o que se esconde por de trás dessa bruma, ir nessa estrada que me levará
ao desconhecido, às verdades que brotam apenas quando estamos sós; pois é
sozinho que se escuta o berro que rasga o peito e sentisse as correntes que
prendem a alma ao vazio. Queria entender essa ganância que rege o mundo e por
que aceitamos vestir essa roupa que sufoca a alma, não entendo essa vontade em
ser número, em se expor como artigo a ser consumido e depois cuspido na
primeira lata de lixo. Que loucura viver entre uma multidão vazia e sem desejos,
perdida entre os medos cotidianos. Quando entendo que estamos longe de sermos
livres, que nossa natureza se perde entre fumaça e concreto, minha alma sangra em
seus tormentos, se arrepia diante ao pavor de viver a mesma vida cinza e banal.
Não se preocupem. Meus sonhos são outros, meu peito bate na frequência da vida
que se abre a simplicidade dos sorrisos, não quero plastificar meus sonhos e
nem fazer do meu objetivo uma experiência rasa, que acaba numa esquina afogada
num copo de destilado que depois de vazio chora sozinho. Abro diante minha vida
uma jornada entre a verdade que tem cheiro de terra molhada, ponho-me nessa
estrada de terra batida e histórias perdidas, vou por caminhos e deixando minhas
dores, abrindo as cores do horizonte que se estende logo adiante. Sem muito
motivos evidentes vejo aquele sonho, antes distante, tornando-se novamente presente,
crescente em meu horizonte. Vejo abrir um novo dia no que antes era uma longa
noite. Nessa estrada deixo a loucura que adoece a alma e curo com terra as
feridas da vida vou comigo e meus sonhos, vou sozinho sem medo dos tombos.
Eduardo Andrade
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