domingo, 12 de julho de 2015

Dentre as brumas


Existe um mar de brumas que se estende diante meus olhos, onde dentre neblinas vejo imagens desbotadas de um pretérito que como grilhões me prendem a brumas que rodeiam. Diante o nevoeiro mantive-me estático, o medo paralisou-me ante a possibilidade de mais um tombo, a probabilidade de mais uma queda onde novamente partisse-a o que pouco sobrou dessa alma partida fez-me atônito fronte uma conjuntura em que tudo é nulo e fútil. Desculpem minha necessidade de estar longe, mas não sou desse mundo onde tudo é tão pouco, onde a simplicidade vive escondida e reprimida em nossos guetos, estamos acuados dentre de nós mesmos, que loucura é viver escondido longe das estrelas que somos que pouco é ser mercadoria que depois de usada perde a utilidade. Talvez a vida seja mais que uma prateleira de mercado onde nos colocamos todos os dias. Consumimos e somos consumidos, do nascer ao raiar do dia, e a noite, choramos a insanidade dessa sociedade atormentada. Tantos são os sonhos afogados nas brumas, tanta é a vida deixada junto ao lixo jogado ao asfalto que não consigo mais enxergar o sentido de viver numa sociedade louca onde sou apenas um número sem valor no mercado, uma mercadoria vendida ao preço da carne, exposta com suas dores maquiadas de felicidade. Tão artificiais são as cores do concreto e seus sonhos rasos, seus amores amarrados em cordas de aço não passam do retrato dessa vida cheia de pequenos pecados, repleta de vontades esquecidas e reprimidas nessa cortina que se estende entre nós e a vida. Antes que eu mude e me torne tão frio quanto o inverno que perdura todos os dias vou-me embora em busca de algo que nem sei ao certo o que é, vou à busca de mim mesmo, vou abrir as portas da vida e quem sabe, caminhando, descubra o que se vê além dos olhos. Quero descobrir o que se esconde por de trás dessa bruma, ir nessa estrada que me levará ao desconhecido, às verdades que brotam apenas quando estamos sós; pois é sozinho que se escuta o berro que rasga o peito e sentisse as correntes que prendem a alma ao vazio. Queria entender essa ganância que rege o mundo e por que aceitamos vestir essa roupa que sufoca a alma, não entendo essa vontade em ser número, em se expor como artigo a ser consumido e depois cuspido na primeira lata de lixo. Que loucura viver entre uma multidão vazia e sem desejos, perdida entre os medos cotidianos. Quando entendo que estamos longe de sermos livres, que nossa natureza se perde entre fumaça e concreto, minha alma sangra em seus tormentos, se arrepia diante ao pavor de viver a mesma vida cinza e banal. Não se preocupem. Meus sonhos são outros, meu peito bate na frequência da vida que se abre a simplicidade dos sorrisos, não quero plastificar meus sonhos e nem fazer do meu objetivo uma experiência rasa, que acaba numa esquina afogada num copo de destilado que depois de vazio chora sozinho. Abro diante minha vida uma jornada entre a verdade que tem cheiro de terra molhada, ponho-me nessa estrada de terra batida e histórias perdidas, vou por caminhos e deixando minhas dores, abrindo as cores do horizonte que se estende logo adiante. Sem muito motivos evidentes vejo aquele sonho, antes distante, tornando-se novamente presente, crescente em meu horizonte. Vejo abrir um novo dia no que antes era uma longa noite. Nessa estrada deixo a loucura que adoece a alma e curo com terra as feridas da vida vou comigo e meus sonhos, vou sozinho sem medo dos tombos.  

Eduardo Andrade

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