quarta-feira, 28 de junho de 2017

Estrada esquecida

Ferido e vencido
com a alma partida
juntei meus pedaços.
Repleto de amarguras
despi minha armadura
e na chuva enxerguei minhas rugas.
Então cansado de ser pasado carreguei meu alforge com sonhos
e sozinho fui atravessar meus tombos.
Pedalei minha vida por uma estrada esquecida.
Por caminhos de histórias perdidas construí minha jornada com suor e lágrimas.
Rumo ao mar
numa rota sinuosa,
enquanto o corpo se esgota,
A hora vagarosa se entorta.
A cada quilômetro vencido
Um sorriso,
Um grito.
Do pranto derramado
nasceu o meu rastro.
Eu e minha bicicleta
construímos uma poesia
com sabor de terra batida,
livres ultrapassamos fronteiras.
Na beira da estrada armei minha barraca.
Por dois meses e tantos quilômetros fui com o vento ao relento.
Lento pedalando o tempo.
Na beira do rio deixei o que não era riso.
Do sorriso fiz combustível
para prosseguir quando tudo era mudo e absurdo.
Do silêncio que canta aos ouvidos escutei a melodia da vida.
Com minha bicicleta,
caído por terra,
deixei no corpo
no rosto
dor e sufoco.
Para além da neblina
suei subindo colina.
Assobiei lá de cima a canção que o sabiá sabia.
Já sabido e pedalando pela via senti aroma de maresia.
De fronte ao mar
e de mar mareado,
solitário atravessei meus pedaços.
No final da estrada o gosto era de água salgada.

Eduardo Andrade

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