Quis transportar tua
imagem absoluta e
decompô-la em forma de
versos de cetim,
fiz de sua imagem nua e
crua as formas
necessárias para
compor uma flor ao espelho.
Ao tocar vossa pele de
pêssego macio
sinto teu cheiro doce
de mel silvestre.
Ao beijar vossa boca
louca sinto em teu
paladar gosto de maduro
morango celestial.
Sua imagem expande-se
insistentemente
sobre minha fronte em
forma de lua
crescente e ocupa nossa
cama
como lua imperiosamente
cheia.
Sim quis transpor tua
imagem e
decompô-la em
infinitos momentos,
quis insuficientemente
transpor vossa
face de majestosa flor
de minha cama,
quis em minha
existência exorcizar sua
presença, transformei
seu gosto de morando
em amargo sabor de
veneno, fiz de nossa cama
deserto de longínqua
turbulência astral.
Sim tentei de diversas
formas desconfigurar
sua imagem celeste,
inutilmente percorri
por caminhos tortos,
por estrábicas alamedas
andei passos
embriagados de um desértico passado.
Depois de tando andar e
de tanto errar
compreendi que não
poderia desconfigurar-te,
não poderia livrar-me
de seu doce fantasma
que de tão açucarado
fez-me aprisionado.
Entendi que para livre
ser sem você
deveria ser
solitariamente feliz. Entendi
que deveria retornar ao
que abandonei de
forma erma e nem um
pouco soberba.
Humildemente fui para
longe, fui sozinho,
mas comigo e
solitariamente acompanhava-me.
Descobri que somente
sozinho poderia
ser, poderia novamente
ser.
Longe em uma praia erma
de singela
beleza consegui
desconfigurar seu
encanto de seria,
libertei-lhe ao mar.
Nas areias alvas
enterrei-lhe como
se enterra um tesouro
escondido.
Para decompô-la,
decompus minha
alma, desconfigurei
minha vida para
que assim composse
novamente
meu enredo sem os seus
queixos, sem
seus doces seios, seu
mais seus loucos
e não poucos beijos.
Reconfigurei-me
sem tua imagem,
refiz-me ermo e de
forma plena. E para
livrar-me do que
sobrou, lavei-me nas
águas de mate
de um poço profundo e
suave, em seu
leito deixei resquícios
de lembranças.
Ao regressar das
singelas areias de
uma praia bela,
despedi-me de nosso
pretérito e ao olhar
para proa do barco
via um futuro e não um
passado.
Da canoa ao pier tua
imagem já não
era imagem, nossa vida
já não era vida.
Do pier ao ônibus configura-se em
minha fronte um futuro constante.
Eduardo Andrade do
Nascimento.
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