quarta-feira, 1 de agosto de 2012

CRÔNICA ANTIURBANÓIDE




Muitas vezes temos medo de ser felizes, temos medo de viver o que queremos viver para sermos felizes. E assim somos pois nos prendemos ao que é imposto pela sociedade com seus padrões de felicidade. Para que sejamos felizes em uma sociedade como a nossa temos que ter um salário consideravelmente superior ao mínimo, temos que ter bons carros e uma casa luxuosa. Imperioso se faz ser urbano, de concreto e asfalto, pois quem opta por uma vida verde e rural não é visto como normal, não mesmo, é louco pois teve a ousadia de não se adaptar a loucura urbanóide, teve a humildade de assumir para si mesmo que seria feliz longe de buzinas, internet e asfalto.

O que faz uma pessoa largar uma grande cidade e todo sua frenética vida e adaptar-se ao antagônico do que vivia antes? Será um anomalia seguir o fluxo contrário dos fluxos migratório? Seria insanidade não viver conectado de olho em um mercado, de olho em computadores que vigiam a vida alheia? Sim para essa sociedade não é normal não ser o que eles querem! Sim não vou adaptar-me ao asfalto asfixiante e muito menos aos canos de descarga de automóveis poluentes, não quero uma vida de escritório, não me encanta passeios em florestas urbanas de pessoas friamente estranhas. Gostaria sim de viver em um cidadela onde não se escute o barulho nada alucinante de uma boate de musicas duvidosas, onde não seja o perfume de sua janela a fumaça de um cano de descarga, onde possamos ver ao invés de prédios de alturas urbanas, árvores de alturas campestres, quero sentir cheiro de mato verde e não de óleo queimado.

Nos grandes centros urbanos o tempo não tem tempo para si mesmo, pois 24 horas não são suficiente para seu frenético expediente. As horas não comportam minutos e nem segundos suficientes paras as exigências de um mercado intransigente e assim a vida das pessoas voam mais rápidas que os ponteiros dos relógios, se consumem em lojas e comidas industrializadas e futilizam-se em programas televisivos com temas abusivos e conteúdo extremamente ordinário. Não podemos esquecer que além da TV e suas audiências massivas existe uma outra mídia que domina, a internet hoje também se faz massiva e de pouco em pouco, ou melhor, de muito em muito, já banaliza as coisas da vida, a cor da comida e até mesmo os seios e os quadris de uma chica.

Malditos urbanóides que não têm tempo para olhar o próprio tempo, para suas cores, seus atores e amores, não conseguem se adaptar ao verde campestre, ou até mesmo ao verde silvestre, urbanóides não gostam de cachoeiras e florestas, praias desertas para eles não são singelas. Preferem sim shopping centers e praias cheias, boates e noites sem estrelas, preferem mulheres sinteticamente maquiadas e vestidas urbanamente na moda do aço, do concreto e asfalto. Urbanóides são frios, não se aquecem eles com o doce calor de um sol selvagemente matinal, não caminham por trilhas que os levem para cumes de vertiginosa e insana altitude. Urbanóides tem medo da natureza, pois dentro dela sentem-se como presas, que de tão indefesos tornam-se inimigos de uma mãe chamada natureza.

Admira-me pessoas que no auge de seus desprendimento urbano não somente se abstêm de uma cultura de concreto e aço, como são capazes de superar tal cultura massificante abandonando tudo aquilo que os aprisionam nessa selva de asfalto embraçador e prédios verticalmente longos. Superar a selva de concreto e inverter o fluxo migratório faz-se inexorável para aqueles que tanto almejam uma vida humilde com cheiro de mato, com árvores de secular existência. Escrevo esse texto para aqueles que aceitam o imperioso desafio de uma vida humilde e natural, onde nossas músicas de ruas são pássaros de silvestre canto, onde homens e mulheres são naturalmente belos e assim são por seu habitar. Amigos e amigas que sentem suas almas aprisionadas por correntes de concreto, fumaça e aço libertem-se de seus sonhos urbanóides, sejam adeptos de seus sonhos silvestres, amem o verde, viva nele e faça amor em doces gramados verdes.

Eduardo Andrade do Nascimento.

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