Não me esqueço
daquele tombo,
do silêncio seguido de
um sonoro
estrondo, de um barulho
estranho
onde ao cair de um
corpo fez-se
um doloroso conto, um
dolorido
gemer transformado em
canto.
Aquele tombo onde não
danei
nem os cotovelos e nem
o lombo,
onde machuquei sim, meu
sono,
meu encanto. Maldito
tombo
que todos os dias tira
meu santo
sono, que ao invés de
sonhos
dá-me pesadelos
insanos, que
ao contrário do
encanto, dos
contos e dos cantos fez
de mim
louco e maluco como um
molusco.
Estourei a rotula do
joelho,
contundi além do
queixo
aquele desejo.
O silêncio precedi o
tombo
e o estrondo que sucede
o desabar
de uma forma pouco
humana
fez de minha desvairada
gana
ruidosa gama de
gemidos. Sim,
maldito foi aquele
tombo, danoso
igualmente foi o
tropeço que fez
ruir um tronco ao
asfalto. Cai de
pileque em um sobrado
velho
na Rua da Lapa, cai de
cachaça,
cerveja e maconha, cai
sem travesseiro
e nem fronha. Fui-me ao
chão
de joelho, tronco e
cotovelos,
fui-me beijar o pé
direto de
uma cadeira, observar
as pernas
rígidas de uma mesa,
sim ao cair
conversei com
sandálias, tênis e
sapatos. Sim tombei
como um
morto tomba e sua
tumba.
Para além do que
canto,
para depois de meu
conto
fiz um desenho onde
transformei
em arte aquele tombo,
onde quebrei
desejos e pretéritos,
onde danei
meus sonhos de
primavera,
onde desconfigurou-se
depois
da queda a minha bela.
O que
doeu no tombo não foi
o corpo,
o gemido de dor fez-se
ao perceber que toda
vez
ao tombar, que toda vez
ao cair, serei eu
sozinho
e estatelado ao chão,
serei um corpo
solitário a
levantar-se embriagado,
contundido de um
passado.
Cai com um tombo e ao
levantar
percebi que já não
estava mais ali.
Eduardo Andrade do
Nascimento.
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